09 outubro 2006

a paixão é poliester, o amor é algodão

Dei com isto no outro dia, numa carta que escrevi à Clara, quando tinha 14 anos:

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(...) e a paixão nunca dá segurança. É arrebatadora, é certo, mas traiçoeira, precisamente porque nunca sabemos de onde vem nem para onde vai; não nos pertence, entendes? Nós é que lhe pertencemos a ela, de corpo e alma.
Falando da cama e do cobertor, mais precisamente. A paixão é um cobertor muito quente, mas quente demais, e muito pesado. Daqueles que temos sempre a certeza que vai escorregar da cama a meio da noite, deixando-nos com frio e destapadas.
O ideal seria um cobertor quente, fofinho, leve, muito leve. Que aconchega a noite inteira. Que se gasta com o tempo, talvez, não sei, como o teu monte de areia. E é sempre bom ter também um lençol por baixo, just in case...
E isso é o amor.
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Fantástico. Hoje não o diria melhor. Posso mesmo dizer que, quando li isto, me reencontrei com uma parte de mim que ficou lá atrás, perdida no tempo.
Como é que eu sabia tanto da vida? Uma pita. Nunca tinha tido um namorado. Acho mesmo que, tirando o Pedro, a minha paixão arrebatadora da Pré, nunca tinha sequer gostado de ninguém. Mas já sabia isto, já sabia o que devia ser o amor, o que era a paixão, como queimava e prendia.

Nem sei sequer se tenho algo a acrescentar. Acho que não.

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