10 julho 2007

travessia de verão



Há duas semanas atrás peguei num livro que estava em cima de uma mesa, abri-o, li a primeira frase e não consegui parar até acabar. Há bastante tempo que isto não me acontecia (é tão bom) e voltei a perceber quanta falta me faz mergulhar numa história.
Nunca tinha lido nada do Capote, porque simplesmente não me tinha cruzado acidentalmente com ele. Que maneira de escrever... absorvente, intensa, profundamente nítida e clara, mas sem deixar de ser rebuscada. Crua e aguçada. Há frases que vou ter que voltar a ler, muitas vezes, até as conquistar.
Não é fácil descrever um amor adolescente. Porque não é fácil de compreender e sobre ele racionalizar. Para mim é muito difícil escrever sobre o passado, embora me ajudasse tremendamente fazê-lo. Porque não me recordo de uma maneira inteligível e una; apenas recordo fragmentos de frases, como se fossem clarões na noite, muito nítidos mas fugazes.
Outra coisa que me fascina é a urgência. A urgência com que se vive aos 17 anos. A maior parte das pessoas perde-a, mas eu acho que a mantenho. Mantenho a sede e a sensação de que estou a viver um momento muito importante, único, irrepetível, que preciso de agarrar e beber.
A história de um adolescente sozinho em Nova York é também a história de um dos meus livros preferidos de sempre - The catcher in the rye - e faz parte da minha vida. Também já fui uma adolescente sozinha em Nova York, mas nos anos 90. Não tem metade da piada. Os anos 40 na América devem ter sido fascinantes. Toda a primeira metade do séc. XX, aliás.
Voltando ao Capote. Ele trabalhou neste livro durante anos e nunca o publicou. Nunca achou que estava terminado. E, de certa forma, acho que tinha razão. Não está. Termina de uma forma abrupta e apressada. Fiquei bastante desiludida, e acho que se fosse escritora iria detestar que publicassem postumamente algo que eu considerava inacabado.

4 comentários:

boedromion disse...

No outro dia alguém dizia que a leitura é uma forma de hipnose, e não há que duvidar não é?! Eu não acredito em coincidência e acho imensa piada quando o universo nos “amanda” assim as coisas: “Ora toma lá isto – um livro de Capote!!
Quanto ao facto de o livro não estar terminando, e de teres tido essa mesma sensação de desilusão, a questão que coloco é preferias não ter tido lido o livro, mesmo assim?

absorbent disse...

é como aqueles do tolkien q foram desencantar... ok, tem piada, mas...

Catioska disse...

gostei de o ler, claro, mas a questão não é essa - se o autor nunca o publicou, porque nunca achou o texto acabado, porquê ir contra essa decisão?---

boedromion disse...

Ah sim, eu percebi, só posso concordar na questão da falta de respeito, porque para variar “valores” mais altos devem estar por trás desta publicação, além de querer partilhar com a “ómanidade” a obra do Senhor. Mas se queres que te diga, o Capote, lá onde anda, já deve-se estar a lixar para isso, e entretanto encarna e escreve o “ganda” livro que te vai arrebatar, e do qual este que leste foi apenas un ensaio, e depois a editora que publicou este vai andar ao estalo com outra editora, por causa de um processo de direitos, e dp o tribunal vai decidir pela outra editora que vai ganhar rios de dinheiro que esta empresa lhe vai ter que dar.. ok, ok estou-me a esticar mas é que neste momento estou sem trabalho ;)